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Cronicamente Online

  • Foto do escritor: Clarissa Santos
    Clarissa Santos
  • 7 de mar.
  • 3 min de leitura

Só os cronicamente online sabem
Só os cronicamente online sabem

2025 tem sido um ano intenso. Desde que voltei a clinicar, minha vida passou por alguns rebuliços e meu tempo livre, que já era escasso, agora é praticamente inexistente. E o que isso significa? Que não há mais tempo para meu lazer.

Ou pelo menos isso era o que eu pensava, assim como tantas pessoas que atendo diariamente. Entre um mínimo de 6 horas de sono por dia, pelo menos 8 horas de trabalho, cuidado com a casa, com filhos, atividade física (quando dá), ida ao supermercado e trânsito. Acabou. Não. Dá. Tempo.


Parece que o dia é feito de obstáculos a serem ultrapassados. Supero um só para outro maior vir logo em seguida. Conseguiu levantar? Ótimo, agora vai fazer café da manhã. Comeu? Agora corre para se arrumar e também arrumar a criança, porque são quase 07:30 e ela vai se atrasar para a aula. Deixou a criança na escola? Agora volta correndo que tem atendimento às 08h e você não pode atrasar. Depois tem aula da pós. Almoço. Se arrumar para ir para a clínica. Fazer exercício. Voltar e ficar com a criança. Colocá-la para dormir. Jantar. Fazer higiene do sono. Ufa! Uns minutinhos de leitura para descansar depois de 16 horas seguidas ininterruptas.


O cansaço começou a bater violentamente e parei para olhar o meu dia e tentar encontrar a fonte dele. Eu amo o que faço. É cansativo, mas não justifica a enorme sobrecarga mental que vinha sentindo. Até que parei para analisar meu uso de celular. Horas e horas do dia gastas sem que eu percebesse. Com o que exatamente? Não sei dizer. Entre rolar um feed, ler uma notícia e responder WhatsApp, meu tempo livre se esvaía. E eu facilmente me enganava ao dizer a mim mesma que esse tempo era gasto no meu entretempo: nos períodos entre atividades, nas brechas da rotina.


Ao me dar conta disso, percebi também que precisava de um hobbie. Afinal, estamos no ano do wellness, e todos estão participando de clubes de livros, pintando livrinhos de colorir, aprendendo aquarela, fazendo yoga. A partir daí, eu fiz de tudo: comprei livros de colorir, aquarela. Só não comprei um tapete de yoga porque já o fiz lá em 2021, na pandemia.


E mais uma vez me vi presa às amarras das redes sociais: o wellness que eu buscava não era um desejo próprio, mas uma introjeção daquilo que eu consumia com tanto afinco. O tempo livre do outro que eu almejava era o conteúdo produzido, não o tempo livre aproveitando uma atividade sem telas.


Parece óbvio, mas é assustador quando nos damos conta do quanto estamos presos às amarras das redes sociais. Quando seus dedos já sabem de cor o caminho para abrir um app, que o fazem sem perceber.


Todo esse movimento me fez olhar para dentro, para aquilo que eu de fato considero prazeroso, aquilo que faço tranquilamente sem precisar parar a cada segundo para ver um vídeo no TikTok. E aí percebi como isso aqui, o que eu pretendia que se tornasse um costume semanal, ficou de lado por meses. E aí resolvi voltar a escrever.


Os livros, esses queridos, nunca consegui abandonar. Acho que porque são a atividade que trouxe da infância. Eles são aquele ponto de conexão entre quem fui, quem sou e quem ainda serei. Já fui desenhista, já bordei. Já escrevi e agora retorno. Mas o que eu sou, eu bem sei. Eu sou leitora.

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