A Armadilha da Super Exposição Online e a Busca por Validação
- Clarissa Santos
- 15 de abr.
- 3 min de leitura

Há alguns meses viralizou um vídeo no Tiktok de uma mulher falando que pintava as unhas há semanas de uma cor clara porque estava esperando o noivo pedí-la em casamento. Isso porque ela havia estabelecido um prazo para que o pedido ocorresse, por motivos que não vem ao caso aqui.
O fato é que ela postou isso como um vídeo descontraído, como se estivesse comentando com as amigas sobre a demora do pedido e da sua expectativa de fazer uma bela foto para as redes sociais: com as unhas perfeitas e o anel que ela tanto almejou.
O meu propósito aqui não é julgar a ação dela, mas de levantar uma reflexão: será que valeu a pena?
Isso porque o vídeo viralizou e muitos, mas muitos mesmo comentaram aquilo que lhes veio a cabeça, julgando ela, seu vídeo, seu relacionamento e seu namorado.
Para os genZ e a geração alpha a internet está ali como a tv esteve para as gerações X e Y. Ela formou seu caráter e personalidade. Não há uma linha que delimita quando essa exposição começa, já que desde bebês temos fotos e vídeos expostos em todos os cantos da internet; postados descontraidamente, como forma de criar um álbum de lembranças virtual ou até mesmo postados intencionalmente com a intenção de ser visto, de receber um like, de transformar essa exposição num negócio lucrativo. Nunca foi tão fácil ganhar dinheiro na internet.
Diante disso, a reflexão que fica é sobre o impacto dessa exposição digital em nossas vidas. As gerações que viveram antes do boom das redes sociais até conseguem vislumbrar uma realidade sem elas, mas e aqueles que foram formados pelas redes? Como se relacionar, como pertencer e existir sem cair na armadilha da exposição excessiva? Afinal, quando você posta uma foto ou um vídeo, você quer ser visto. Você quer likes, comentários, quer repercutir, aparecer. Quer ser alguém e quer pertencer a essa cadeia de trends, dancinhas e challenges.
No entanto, é pouco provável que você esteja realmente preparado para as reais consequências disso, como a menina das unhas. As interpretações errôneas, os julgamentos e ataques são desproporcionais a intenção dela. Um vídeo que, possivelmente, só tinha o propósito de comunicar um desejo, uma expectativa, acabou levando a uma crise emocional de uma mulher que, na verdade, não cometeu nenhum erro. Talvez apenas o de não medir bem as consequências de filmar algo íntimo e compartilhar numa rede social sem ter noção real do alcance que esse vídeo poderia ter.
Isso só confirma que não estamos preparados para lidar com as consequências de compartilhar tanto, seja de forma descontraída ou estratégica. Afinal, mesmo influênciadores muito bem acessorados já caíram em situações de julgamento coletivo (alguns até mais de uma vez). E é comum esses mesmos influênciadores relatarem frequentemente o quão prejudicados emocionalmente estão por lidarem diariamente com o excesso de exposição.
A internet nos conecta de formas inimagináveis, abre portas para oportunidades, mas também nos coloca sob holofotes que nem sempre podemos controlar ou estamos preparados para enfrentar. O caso da mulher das unhas é só um exemplo de como algo aparentemente simples pode desencadear uma onda de julgamentos e críticas que extrapolam qualquer intenção inicial.
Talvez seja o momento de revisitarmos nossa relação com as redes sociais e a maneira como compartilhamos nossas vidas. Será que estamos escolhendo o que expor conscientemente ou apenas seguindo o fluxo de uma sociedade cada vez mais inclinada à validação pública? O equilíbrio entre o que mostramos ao mundo e o que guardamos para nós mesmos pode ser a chave para navegar nesse universo digital de forma mais saudável e consciente.
No final, não se trata de condenar a exposição online, mas de compreender e respeitar os seus limites. Porque, no fundo, não são os likes ou os views que definem quem somos – nossa essência vai muito além disso.
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